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Reino de Deus e a Missão da Igreja

(Autor: Bispo José Ildo Swartele de Mello)


Temos demonstrado como a natureza do Reino de Deus se revela na Trindade, em especial, na pessoa e obra de Cristo e do Santo Espírito. A Igreja deriva sua missão da própria missão de Cristo. A Igreja, como corpo de Cristo e comunidade do Rei, é continuadora da missão de Cristo pelo poder do Espírito Santo. É por obra e graça do Espírito de Deus que a Igreja se torna capaz de cooperar com Deus como testemunha do Rei e como embaixadora e agência do Reino. A Igreja não existe para si mesma, mas vive para servir como agente do Reino de Deus neste mundo com vistas à glória de Deus. Para que seja eficaz em seu ministério, a Igreja precisa servir de modelo do Reino de Deus.

Vimos como Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo revelaram sua sensibilidade para com os gemidos da humanidade e de toda a criação e como, por compaixão, foram movidos a ação. A mesma motivação deve mover também a Igreja. A Igreja deve igualmente estar sensível aos gemidos e as necessidades humanas e também deve estar sensível a questões ecológicas. As boas obras não devem ser feitas como isca para evangelização, mas devem ser a expressão sincera de amor e solidariedade.

Vimos anteriormente como o ministério de Cristo foi exercido de modo encarnacional, e veremos, um pouco mais adiante, quais as implicações disto para a Missão da Igreja. Neste mesmo sentido, falaremos também sobre as implicações da cruz de Cristo e de sua ressurreição. O que nos leva direto para a natureza paradoxal do Reino de Deus, neste período de seu processo de desenvolvimento, que se situa entre a primeira Vinda de Cristo, quando da inauguração do Reino, até a Segunda Vinda, quando se dará a manifestação plena do Reino. Em Cristo encontramos o Rei, coroado com espinhos, que vem humilde sobre um jumentinho, que é ao mesmo tempo o Filho do Homem e o Servo Sofredor, que é aquele que tem todo o poder no céu e na terra e que se posta como ovelha muda diante de seus tosquiadores; que sendo Senhor, age como servo. Que ensina que os últimos serão os primeiros e que aqueles que quiserem ser os primeiros no Reino precisam assumir a condição de servo de todos. A Igreja também deve aprender com Jesus, no sentido de fazer primeiro para depois ensinar.

Procuramos, demonstrar que a missão da Igreja tem tudo a ver com a Escatologia, como bem colocou Juan Stam ao dizer que as expressões “Até o fim dos tempos” e “até os confins da terra” resumem a missão da Igrejai. Pois a Grande Comissão de pregar o Evangelho do Reino a todas as nações até o fim dos tempos (Mt 24.13; 28.19s), mostrando a relação íntima entre o futuro de Deus e a caminhada presente da Igreja, pois quanto mais o espaço se alarga, mais o fim se aproxima. Espaço e tempo estão conjugados, atrelados um ao outro, numa relação de interdependência. Existe, portanto um relacionamento estreito entre Escatologia, Espírito Santo e a Missão da Igreja. Sabemos que a promessa do Espírito é dom escatológico por excelência (At 2.16-21; cf.. Jl 2.28-32), sendo também amostra do futuro de Deus (Rm 8.19-23), sendo, mais do que adiantamento, parte do cumprimento. Sabemos ainda que quando os discípulos fazem uma pergunta escatológica (At 1.6) a resposta de Cristo inclui o dom do Espírito Santo equipando para a obra de evangelização mundial (At 1.8). De modo que o período antes do fim não é um tempo de espera infrutífera, mas é época da missão do Espírito e da Missão da Igreja. Jesus prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra o avançar da missão da Igreja e prometeu também que “este Evangelho do Reino seria pregado para testemunho a todos as nações antes do fim”. E o Apóstolo Pedro justificou a aparente demora do retorno de Cristo dizendo que isto se devia a longanimidade de Deus que não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao conhecimento da verdade e segue adiante afirmando que como cristãos, nós não devemos apenas esperar, mas também devemos apressar a Vinda de Cristo. Portanto, a Igreja não deve adotar uma postura passiva e acomodada, os cristãos não devem ser crentes de arquibancada, que se tornam meros espectadores dos eventos escatológicos ou meros prognosticadores e agoureiros do fim, pois a escatologia não existe para satisfazer a curiosidade, mas sim para nos dar visão da vontade de Deus e nos encher o coração de esperança e para nos mover a ação. Cheios do Espírito Santo, cumpramos nossa missão, e, como agentes escatológicos, apressemos a vinda do Senhor, o Grande Dia da manifestação do Filho de Deus, através do cumprimento de nossa missão integral como comunidade do Rei Jesus, que é o cabeça da Igreja, Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Exploraremos e aprofundaremos um pouco mais as implicações da Escatologia, da natureza do Reino de Deus, da Missão de Cristo e do Espírito para a Missão da Igreja. E por fim veremos um exemplo histórico de como uma boa escatologia pode levar a Igreja a cumprir sua missão com grande impacto social.

O apóstolo Paulo ensina que o cristão, como cidadão do Reino, precisa se esforçar por viver a altura de sua nova cidadania (Ef 4.1; Fp 1.27; Co 1.10; 3 Jo 1.6). Precisa refletir a ética do Reino de Deus (Ef 3.10; 5.1 e 1 Pe 4.10). É como se um plebeu fosse conclamado rei. Precisará ser educado para viver de modo condizente, de maneira digna de sua nova posição. Deverá ser lembrado, ou ter sempre em mente, quem ele agora é, ou seja, qual é a sua nova condição, pois é certo que haverá conflito com seus antigos hábitos e estilo de vida anterior. Talvez esta ilustração ajude a entender o que o apóstolo Paulo deseja comunicar com as seguintes expressões que ele emprega em Colossenses: “tendo sido sepultados” (2.12), “Se morrestes com Cristo” (2.20), “porque morrestes” (3.2), seguidas por: “fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena” (3.5). Alguns poderiam objetar: “se morremos, por que é que temos que fazer, pois, morrer...?”. Pois enquanto estamos neste mundo, sofremos muitas tentações e precisamos nos desembaraçar de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, para então correr, com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12.1,2); o autor de Hebreus ainda fala que o cristão está travando uma grande luta contra o pecado (12.4). Paulo diz, em Rm 8.13: “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhas para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis”. Vemos aí, em Romanos, algo bastante parecido com o que temos em Colossenses, pois, em 6.1-6, Paulo ensina que estamos mortos para o pecado, etc... e, aqui, diz que devemos, pelo Espírito, mortificar os feitos do corpo. É interessante também notar que, em 6.11, ele diz aos que crucificaram o velho homem: “assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus”; e, ainda, sente ser necessário exortar: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões”.

iStam, Juan B. Profecia Bíblica e Missão da Igreja. Tradução de Roseli Giese – São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003. 107. A este respeito, veja a interessante apresentação à edição brasileira, p. 3.

Comentários

  1. EU NUNCA VOU MORRER.

    Jesus ressuscitou. A ressurreição é, por excelência, a mãe de todas as transformações. Pois fala do tremendo poder do Espírito de Deus de produzir mudança da morte para a vida. A morte não tem a última palavra. Jesus, após sua ressurreição, passou 40 dias ensinando aos seus discípulos acerca do Reino de Deus (At 1.3). E “ todas a fontes destacam, de uma ou de outra maneira, a identidade do Ressuscitado com o anteriormente Crucificado e a continuidade de sua pessoa”...? pg 48 . Ou seja, o Ressuscitado incrivelmente humano, ele tinha as marcas da crucificação.

    As características são demonstrados por meio de Lucas e João. O corpo ressuscitado é realmente físico (Lc 24. 36-49) . A sua fala e o seu caminhar era igualmente como de qualquer ser humano. O Cristo ressuscitado se alimentou como o ser humano normalmente se alimenta (Lc 24 – 41). Ele não só falou, como ensinou da mesma forma que antes. Stam ainda relata a característica mais extraordinária. Ele foi confundido com os seres humanos mais humildes. Maria Madalena o confunde com um jardineiro (Jo 20-15), os discípulos suspeitaram ser um pescador (Jo 21.1-4).

    Impressionantemente humano, Conselheiro, pedagogo, psicólogo. É um Cristo que gosta do companheirismo da mesa de um passeio. A ressurreição de Jesus ensina que Deus tem a última palavra. É o Triunfo do amor e da vida. Na ressurreição de Jesus já foi manifesto o seu poder universal. E este mesmo poder age agora em nós que cremos, e ele mesmo garante nossa ressurreição.

    Andréa da Glória

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